31/03/2009

Dúvidas

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Eu não aguento mais essa tortura! Primeiro vieram as fadas, os duendes, os gnomos! Foram invadindo a minha casa, a minha vida, o meu ser! Depois, pouco a pouco, ele foi tentando apropriar-se de minha alma. Foi se instalando dentro de mim, ocupando cada cantinho que encontrasse e me expulsando para um lugar sombrio, que eu nem ao menos reconhecia. Covardemente fui me encolhendo, me deixando dominar. Ele, se fortalecendo, criando vida própria, tomando conta de tudo e de todos. Até meus amigos se encantaram com ele! Depois foi a vez de expulsar os seres da natureza, que estavam ali para dar um contrapondo mais leve às agruras que a vida adulta traz consigo. Expulsou-os para locais desconhecidos. Ele mesmo foi se transformando. O doce e meigo garotinho cresceu e perdeu a suavidade. Ganhou em malignidade disfarçada pelo sorriso farto e os olhos brilhantes. Mas eu o via, do meu canto escuro e úmido. Percebia todos os seus movimentos e todos os disfarces usados para seduzir pessoas. Transformou-se num jovem sedutor, ao qual todos se rendiam, como eu mesmo havia feito.

Enquanto acompanhava o seu desenvolvimento, imaginava formas de lidar com ele. Mas nenhuma das minhas maquinações foi suficiente. Ele as vencia, uma a uma. E foi seguindo seu caminho, anulando-me cada vez mais. Sentia que estava perdendo minha própria identidade. Estava sendo transformado numa horrenda caricatura dele. Pouco a pouco ele acabaria tomando posse do meu corpo. Da minha vida. Da minha alma. Algo precisava ser feito. Reunindo o pouco de forças que ainda me restava, consegui lançar um sinal de socorro, que uma amiga, mais atenta, percebeu e respondeu, através de sinais, lançando a ponta da corda com a qual eu conseguiria libertar-me do cativeiro, tendo então a sonhada oportunidade de lutar contra ele.

Livrou-se do filho gerado, não o assumindo e entregando sua guarda aos pais da moça. Saiu aliviado e pronto para novas aventuras. Foi para o exército onde, em plena ditadura, cativou a todos, inclusive o amor de Regina, de quem acabou se enamorando, e destruindo. Morou com sua antiga namorada, Arlete, que largou tudo para segui-lo, até que, cansado, dispensou-a friamente, deixando mais uma presa em sua trilha. Conheceu outras pessoas, teve outras experiências e foi deixando, por onde passava, outras vítimas dos seus encantos. Com o passar do tempo, mais encantador e maligno ele se tornava. Crescia e, atrás do sorriso cativante, corações iam sendo destruídos. Havia se transformado num monstro. Alimentava-se do mal que espalhava. E quanto mais vivesse mais aumentaria seu campo de destruição.

Estava claro que algo precisava ser feito. Ele era um daqueles personagens criados numa bela manhã de inverno, que conseguiam criar vida própria, livres de qualquer controle. Até praticamente deixar o criador anulado, esquecido de si próprio, pois sua personalidade forte ia se alastrando, inicialmente restrita àquela sala, mas pouco a pouco, tomando conta de tudo e de todos. Ele já andava pelas ruas, fazia novos amigos, angariava outras simpatias. Era preciso fazer algo urgentemente. Foi quando, num ímpeto de coragem, acordei de um sonho ruim e o prendi numa armadilha. Seu ponto fraco é que, à medida que se tornava mais humano, ia desenvolvendo hábitos comuns, como o de dormir. Peguei-o durante o sono, com um beatífico sorriso nos lábios, mais parecendo um lindo anjo descansando. Prendi-o com grossas correntes, dentro de um cofre forte, do qual apenas eu conheço o segredo. Agora ele está lá, se debatendo para sair.

Eu sei que não posso fraquejar. Ainda o amo, pois é minha maior criação. Mas estou ciente de sua desvirtuação, de seu descontrole. Não decidi ainda o que fazer. Talvez o lance em alto mar, sepultando de vez quem hesito em renegar. Talvez crie um espaço fechado, exclusivo, de onde não poderá sair. Precisa ser um local seguro, do qual apenas eu tenha a chave e cuja fechadura se abra apenas pelo lado de fora, para que não consiga fugir e espalhar mais maldades por este mundo já tão saturado de horrores. Minha amiga sugeriu duas possibilidades: a primeira, quase inviável devido aos seus encantos que sempre acabam me enfeitiçando seria terminar logo sua história, colocando o ponto final. A segunda, seria criar um local onde ele pudesse existir, apenas seu e de mais ninguém. Ainda não estou certo, pois o coração de um criador não é imune à sua cria, seja ela anjo ou demônio.

:-)*(-:


Estou enfrentando grandes dificuldades com o meu tempo. Não tenho conseguido visitar os amigos, não tenho conseguido parar para escrever, não tenho conseguido pensar em nada novo para postar. O Alzheimer do meu padrasto está progredindo, minha mãe precisando de um pouco mais de força e o artista que represento está em fase de ascensão, com novos convites e, consequentemente, mais trabalho para mim. Agora mesmo estou trabalhando na preparação da nova exposição (de 06 a 22 de maio, no Centro Cultural do Banco Central, em São Paulo). Aproveito as constantes viagens a São Paulo para estar um, dois dias com meus pais. Mais, não tenho como fazer. Tenho sentido uma enorme pressão sobre mim e preciso fazer algo em meu favor. Cortando algumas coisas, mesmo que temporariamente. Com lágrimas nos olhos digito estas palavras; com um aperto no peito digo que vou parar por algum tempo. Eu volto! Nós sempre voltamos! Não deixarei de visitar os amigos, sempre que possível, mas minhas janelas continuarão abertas, embora sem novas postagens por algum tempo.

Deixo meu carinho por todos e minha gratidão pelas belas amizades que aqui conquistei. Isto não é uma despedida; é apenas um até breve.


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27/03/2009

Hoje é dia de festa!!!

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Tá tudo preparado e os amigos estão começando a chegar.
Esta festa é pra vocês, que estão sempre comigo.




Vamos comemorar, brincar e dançar até amanhecer.
Que todo mundo se divirta.




Tem bolo de chocolate pra todo mundo.




Esta é uma festa de um ariano.
E dedicada a todos os arianos.




Todos prontos para a diversão?
Então, comecemos pelos brindes!
Feliz Aniversário pra todos nós!

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25/03/2009

Da Revolução Industrial à Era dos Blogs

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Desde a Revolução Industrial, que substituiu a ferramenta pela máquina, a burguesia se solidificou juntamente com o capitalismo. Foi um momento altamente revolucionário, de passagem da energia humana para a motriz, ponto culminante de uma evolução tecnológica, social e econômica, que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média. Tudo isso se tornou possível a partir da invenção da máquina a vapor, além de um salto tecnológico que, juntos, acabaram impulsionando a industrialização mundial.

A partir daí, a velocidade com que os acontecimentos se deram só fez aumentar, atingindo velocidades impensáveis para nossos pacatos antepassados. O desenvolvimento tecnológico desenfreado implicou na necessidade de mais e mais informações, se processando cada vez mais rapidamente, culminando com as informações em tempo real que hoje a internet nos proporciona.

Não faz muito tempo em que era normal se inteirar do que acontecia no mundo pelo jornal matutino. Hoje, esses jornais servem mais para analisar as notícias do que propriamente informar em primeira mão. Essa informação temos instantaneamente, muitas vezes sem a preocupação com a qualidade da noticia. Não importa o veículo, se cabo ou internet... o que importa mesmo é a velocidade com que ela é divulgada.

E a internet, até o momento, é o topo desse desenvolvimento tecnológico, que nos conecta com o mundo inteiro instantaneamente. Através da internet podemos conversar ao vivo com pessoas do outro lado do planeta, trocar informações e nos mantermos informados sobre tudo o que se passa em qualquer país, por mais distante que esteja.

Parece-me que o século XXI será o “século da internet”.

Com o advento da rede mundial, em que todos podem participar, publicar e gerar conteúdos, os blogs surgiram como a principal ferramenta deste fenômeno, democratizando definitivamente o acesso de todos à comunicação. No Brasil, estima-se que 25% dos internautas brasileiros leiam blogs todos os dias em busca de informação, divulgação ou entretenimento.

Os hábitos de aquisição de informação vêm mudando radicalmente desde o surgimento da imprensa, do telégrafo, do telefone, do rádio e da televisão. A cada nova invenção, o homem ansiava por um pouco mais de informação disponível. Até a aparição da internet, onde temos infinitas possibilidades e fontes de informação. E esta última mudança foi tão repentina que a maioria de nós, adultos, ainda se lembra da época em que os computadores eram máquinas ligadas à ficção científica.

Com a blogosfera, um contingente praticamente ilimitado de leitores de um lado e escritores de outro, surgiu a oportunidade de não apenas procurar pela informação, mas também de criá-la, através dos milhares de escritores que surgem todos os dias. São milhares de novos blogs sendo criados a cada dia, onde encontramos, além de informações “jornalísticas” sobre os acontecimentos cotidianos, podemos nos surpreender com novos e ótimos poetas, dramaturgos, cronistas e até humoristas.

Eu estou na blogosfera há aproximadamente seis anos e posso dizer que isto aqui é viciante. Já fechei dois blogs e acabei retornando, pois não sei se conseguiria viver normalmente sem minha passadinha diária pela net. E confesso que preciso me policiar para não adicionar todos aqueles que vou encontrando pelo caminho e cujos assuntos e qualidade me causaram interesse. Acompanhar apenas aqueles que já conheço já é difícil devido à velocidade com que o nosso tempo passa, imagine se outros forem sendo incluídos, sem freio nenhum...

Agora eu pergunto: e você? Como vê tudo isso?

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23/03/2009

Relacionamentos on-line

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Mais que um fenômeno atual, os relacionamentos via internet estão se expandindo a olhos vistos. São relacionamentos românticos, de amizade, de troca de informações e até comerciais.

Com isso, as normas sociais e morais estão passando por um relaxamento, devendo impor um novo padrão ético. Por outro lado, deverão provocar um aumento da imaginação e da capacidade intelectual média das pessoas, pois existe uma grande diferença entre a realidade e o ciberespaço, onde a imaginação é importantíssima, especialmente para imaginar “como o outro é”.

Quer continuar a leitura? Clique aquí. E, por favor, deixe lá o seu comentário. Ele é muito importante para mim e para os demais integrantes do grupo.

Você já sabe:
dia sim, dia não, uma nova crônica para sua satisfação.

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18/03/2009

Aurora

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Vagueava desesperado, tendo como companhia os uivos do vento. Negras nuvens encobrindo a lua, apenas a escuridão em meu caminho. Meus olhos, enegrecidos por lágrimas doloridas permaneciam fechados, se desmanchando num rio de lágrimas amargas. O coração, num laço apertado queimava meu peito e o frio era minha mortalha. Estava completamente só, sem amigos, sem amor, sem ninguém. Quando a desesperança atingiu seu ponto mais agudo, minhas asas foram parando de bater e me deixei cair ao lado de um rio escuro e choroso. O ruído das águas correndo em busca de um destino desconhecido foi preenchendo minha mente cansada e, finalmente, um pouco de paz abateu-se sobre mim. O triste canto das águas do rio foi tomando conta dos meus sentidos e, pouco a pouco, nos tornamos um. Eu e o rio. Seguindo, chorosos, em busca do desconhecido.

Um raio de luz criou um mágico reflexo no meio do rio. Meus olhos ainda rasos d’água procuraram aquele único brilho em meio à escuridão. Pouco a pouco, na água, o que antes era apenas um canto triste ganhava forma, mostrando tênues relevos, alterados constantemente pelo risco de luz. Era a Lua, numa guerra surda vencendo a barreira de nuvens escuras e enviando um sinal amigo, de conforto. Apeguei-me àquele sinal e meu coração foi-se apaziguando, minhas lágrimas secando. Aos poucos as inamistosas nuvens negras foram abrindo espaço para o brilho da luz, até que esta, triunfante, mostrasse todo seu esplendor. O rio já não era tão tristonho, suas águas pareciam inebriadas pelo luar, mudando o tom lamentoso do seu canto para um som mais ameno, sereno. Uma a uma, as damas de companhia da Lua marcavam presença, pontos luminosos, transformando a paisagem e acalmando o meu coração.

Levantei-me e inspirei. Fundo. Soltei, num som de lamento, todo o tormento que habitava meu corpo, todo o sofrimento que apertava meu coração. E me pus a caminho.

Seguia o curso do rio, a trilha de luz sobre as águas, o canto ameno, o cheiro de mato. Já não mais ventava. Minhas asas foram se alongando, retomando suas cores e se abrindo sobre mim, elevando-me suavemente em busca do meu destino. A brisa se juntou ao rio fazendo música suave.

O coração doía ainda, mas a alma estava em paz. O corpo solitário se arrepiando levemente com a carícia da brisa da madrugada. E o som das asas batendo se juntou ao do rio e da brisa, harmonicamente, inconsciente.

O rio corria e cantava, acompanhado pela brisa e pelo som abafado das minhas asas. Meus olhos, agora secos perscrutavam o longínquo horizonte, iluminado pela Lua amiga e por suas damas de companhia. Mas, o que seria aquela luz ao longe?

Não era reflexo da Lua, nem tinha a cor das estrelas. Era mais amarelada, mais fixa. Enquanto me aproximava fui percebendo a silhueta de uma casa entre árvores. De uma janela aberta, ladeada por uma trepadeira em flor, que exalava suave perfume, saía aquela luz que me atraía, traindo a companhia da Lua. Com o olhar fixo para dentro daquela janela aberta vi alguém, ao lado de um abajur solitário que iluminava um vaso com copos de leite. Meio sentado, meio deitado naquela poltrona, um homem respirava a duras penas e dois olhos escuros procuravam, no vazio, por um raio de luz. Acerquei-me dele colocando uma mão sobre sua testa, enquanto a outra energizava seu coração.
Sua respiração foi se normalizando até que, num doce suspiro, seus olhos encontraram os meus. Seu olhar trazia tanta dor, tanto sofrimento que, esquecido dos meus, sorri docemente e convidei-o a me acompanhar.

Ele começou a se levantar devagar e enlacei-o em meus braços, num delicado abraço, levando-o comigo. Voamos juntos sob um céu festivo, com o séqüito da Lua seguindo-a enquanto, a leste, um clarão alaranjado anunciava a Aurora. Pousei na encosta de uma montanha, de onde se avistava o rio que me guiara e me despedi da amiga Lua, agradecendo sua companhia. Ela beijou levemente a testa do meu companheiro e com um sorriso doce afastou-se de nós. À chegada da Aurora, a paisagem prateada que me acompanhara foi se colorindo e, ao som do rio e da brisa foram se juntando novos e alegres sons matinais.

Comecei então a despir lentamente meu novo pupilo e seus olhos foram deixando que se esvaíssem toda a dor, a tristeza e o sofrimento que os tornava escuros. Foi adquirindo os tons da manhã, me olhando com carinho, me trazendo consolo. Já desnudado, apertei o seu corpo num abraço envolvente e fui retirando das suas costas os raios da luz da manhã que foram se transformando em asas coloridas. Como as minhas. E num beijo amoroso selamos nossa amizade e atamos nossas vidas que seguiriam unidas. Até quando? Não sei.


Nota: este conto foi publicado em 03/07/2004, escrito em homenagem ao Pedro Nascimento, um amigo português, que há muito sumiu da blogosfera... saudades, Pedro!

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11/03/2009

Desejos e Sonhos

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Chegou devagar, olhando demoradamente para a imensidão do mar. Um grupo de crianças brincando com areia e algumas mulheres conversando sobre esteiras estendidas. Mais nada. Sentou-se, tirou as sandálias e ficou curtindo o toque frio da areia úmida em seus pés. Seus olhos perdidos no horizonte não viam a cor do mar, sonhavam com outras paisagens. Seus pensamentos traíam suas feições praticamente imobilizadas. Em uma tarde ensolarada, com os cabelos revoltos pelo vento, suas pernas não conseguiam mais sustentar o corpo cansado de tanto caminhar por uma trilha que cruzava a montanha. Deixou-se descansar uns momentos sobre uma pedra, ao lado de um riacho cantante que rasgava o verde. Seu cantil, quase vazio, saciou sua sede e o lenço marrom secou o suor que umedecia sua testa. Subitamente um som entre todos despertou sua atenção. Eram vozes alegres, um grupo de jovens que chegava. Vinham alvoroçados, desfazendo o encanto daquela solidão escolhida. Garotas e rapazes vinham chegando pela mesma trilha e, com a simpatia dos jovens sorriram, acenaram e se aproximaram do córrego em algazarra. Um deles, mais calado, ficou à margem das brincadeiras, destacando-se pela seriedade. Seu olhar era vago, não se fixando em nada, não mostrando emoções. Sentou-se em outra pedra e ali ficou, absorto em seus pensamentos. Observado sem perceber, o jovem calado mais parecia uma escultura em um jardim. Sua pele clara indicava que não tomava muito sol. Suas mãos delicadas, dedos finos e longos, descansavam, cruzadas, sobre os joelhos. As pernas, libertas pela bermuda, mostravam uma penugem dourada. Os cabelos, castanhos, caíam sobre a testa alta. Enquanto o observava atentamente, seus sentimentos foram enternecendo seu coração e uma sensação desconhecida começou a tomar forma em seu íntimo. Nunca se ligara a rapazinhos, pelo contrário, sempre preferira os homens feitos, adultos experientes. Nem mesmo na mais tenra idade quisera contato com jovens da sua idade. Seu primeiro namorado era pelo menos oito anos mais velho. Mas aquele garoto chamara e fixara sua atenção, não sabia por que. Emanava dele algo especial, como se fosse uma aura, um odor diferente, um som surdo, um ar de entrega. Começou a desejá-lo. Ainda não sabia como, se queria acariciá-lo como um filho, embalá-lo em seus braços, beijar suas faces tão claras. Talvez quisesse extrair daqueles lábios vermelhos um sorriso, ou daqueles olhos profundos um brilho especial. Mas, à medida que analisava seus próprios sentimentos, começou a perceber um desejo mais ardente que aquecia suas entranhas. Gostaria mesmo de envolvê-lo em um abraço sensual, percorrendo sua pele com mãos curiosas, extrair daqueles lábios vermelhos um gemido de prazer, ou daqueles olhos profundos um brilho de amor. Ansiava pelos jogos de sedução, de conquista. Queria sentir seus corpos se fundindo, suas peles se roçando, seus suores misturados entre beijos e carícias sensuais. Desejava aqueles lábios vermelhos percorrendo sua pele, umedecendo e arrepiando sua nuca, extraindo profundos sons de prazer. Desejava aquelas mãos claras de dedos longos, tocando seu corpo como se fosse um instrumento musical, para comporem, juntos, uma sinfonia de amor. Queria a entrega total, os corpos transformando-se em um para, depois de um bailado ansioso, explodir de emoção e prazer. Enquanto sonhava, não notou que o grupo que estava no riacho voltava, chamando o amigo para seguirem caminho, despedindo-se com alegres risadas. Seguiram caminho e, com eles, se foi seu amado, deixando aquela profunda sensação de solidão, aquela angústia de amor não correspondido, de desejo não consumado. Seu corpo quente foi trespassado por um arrepio, como se um enorme vazio engolisse sua alma. Seus olhos, perdidos na trilha que descia até a praia nada mais enxergavam. Nenhum som de vozes ou de risadas se ouvia mais. Apenas os sons de uma mata rala, num fim de tarde, em total solidão. Passado o torpor, resolveu segui-los voltando pela trilha em direção à praia, onde um grupo de crianças brincava com areia e algumas mulheres conversavam sentadas em esteiras.

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07/03/2009

Dia Internacional da Mulher

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Como todos sabem, no dia 08 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher, data em que todos homenageiam as mulheres que mais se destacaram em todas as áreas da vida.

Eu quero homenagear todas as mulheres através da homenagem que presto a uma única mulher muito especial. Ela tem se destacado, para mim, através de suas muitas qualidades, que venho descobrindo dia-a-dia. Pra começo de conversa, ela é filha e mãe, além de ser uma prendada dona de casa, que lava, passa, cozinha, cuida do jardim e até pequenos reparos de manutenção ela faz. Mantém um blogue, através do qual distribui carinho e cultiva fortes amizades. Sua simpatia faz com que todos gostem dela. É uma linda mulher, que se cuida, se embeleza e distribui beleza ao seu redor através dos desenhos que faz. Foi casada mas não mede esforços pelo bem estar do ex-marido de quem é grande amiga e com quem tem uma linda filha. É uma mulher forte e guerreira. E tem um cãozinho chamado Zeca.

Essa mulher que, tenho certeza, todos já sabem quem é, aniversaria hoje. Não poderia ser em outra data. E quero deixar aqui registrada a grande admiração que sinto por ela, o imenso carinho que rege a nossa amizade e os meus votos de que seja sempre muito feliz! Que nesta data todos os anjos do céu e aqueles que estiverem aqui pela Terra se reunam para saudá-la, reverenciá-la e homenageá-la. Eu, certamente, não sou um deles, mas é o que estou fazendo.

Feliz Aniversário, Beti Timm!


Que toda ventura que te desejo hoje se perpetue em sua vida! Que seus sonhos sejam realizados e seus caminhos revestidos de pétalas de flores!





Amanhã, 09 de março, é dia de texto meu lá no Palimpnóia.
Apareça, leia e comente lá mesmo. Eu e meus companheiros agradecemos.

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02/03/2009

Virando páginas

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Um rosto inexpressivo, envelhecido, com olhos cansados e parados, respiração suspensa, sob cabelos desalinhados se refletia naquele espelho coberto de marcas do tempo. Corpo enterrado sob o edredom, deixando à vista apenas a cabeça coberta de cabelos mal tingidos. Penosamente o corpo vai se virando e os olhos cansados param no travesseiro vazio ao lado, mostrando uma solidão tão grande, que dificilmente se conseguiria preencher. Lentamente ela tira as mechas de cabelo da testa e começa a levantar-se. Seus pés procuram os chinelos, velhos como ela, e se enfiam neles, sentindo um pouco de conforto. Puxa dos pés da cama, o penhoar desbotado e o coloca com dificuldade, amarrando a faixa numa cintura que já não existe. Abre gavetas e coloca numa maleta antiquada algumas peças de roupa, escolhidas aleatoriamente. Precisa sair dali. Daquela casa onde viveu os últimos trinta e oito anos, que viu crescerem os seus filhos, de onde eles saíram para criarem novas famílias. Toma um banho rápido e, sem grandes cuidados com a aparência, pega a maleta, fecha a casa e sai. Na cidade, se perde procurando a rua onde mora seu filho, sua nora e netos. Sempre havia ido de carro, com o marido e nunca precisara prestar atenção ao endereço. Finalmente encontra a casa e toca a campainha. Após intermináveis minutos, aparece a nora com os cabelos molhados e uma toalha enrolada no corpo. Surpresa, convida a sogra para entrar e pede desculpas, pois precisa deixar as crianças na escola e correr para o escritório. As crianças gritam nos fundos da casa e, quando aparecem, custam a reconhecer a avó. Depois de alguns minutos, ela está sozinha na casa do filho. Na hora do almoço o filho passa ràpidamente para lhe dar um abraço, mas logo se vai, pois está trabalhando e não pode ausentar-se por muito tempo. Ela resolve ir procurar a casa da filha solteira, que mora num pequeno apartamento com seu próprio filho, feito como "produção independente". A filha também está apressada e agradece por ela ter aparecido, pois poderá ficar com o neto para que possa sair à noite sem preocupações com horários ou cuidados com o garoto. E ela fica novamente sozinha na casa da filha, com um neto que não a reconhece. Mas acabam se entendendo. Cuidados e carinhos de avó abrem corações de netos. À noite, o menino, assustado com a ausência da mãe, se enfia na cama da avó e dormem abraçados. E assim vão se passando os dias, entre as casas dos dois filhos, sempre ocupados, correndo atrás de suas próprias vidas e sem tempo para a mãe que, em contrapartida, cuida ora de um neto, ora da roupa da neta, ora do lanche dos garotos. E assim vão se passando os dias. Até que uma noite, não conseguindo dormir, vai até a cozinha buscar um copo de água e ouve uma discussão entre o filho e a nora, que exige do marido que despache logo "aquela mulher" de quem ela nunca havia gostado. E ele, entre a cruz e a espada, implora à esposa que seja paciente, pois seu pai acaba de falecer e é normal que a mãe esteja um pouco perdida, um pouco carente. Sua mulher corta os argumentos com a seguinte frase: “a vida dela já se passou! Ela já fez tudo o que tinha que fazer. Que fique agora em sua casa curtindo seu luto e nos deixe cuidarmos das nossas vidas que estão apenas começando". Chocada, aguarda o amanhecer e vai até a casa da filha que a recebe com a notícia de que conseguiu uma transferência para outra cidade e até um ótimo colégio semi-interno para o filho. Só lhe resta recolocar seus poucos pertences de volta na maleta antiquada e voltar para sua velha casa, onde viveu metade de sua vida. Mas ela não se sente acabada! Não se sente no fim! Se sente viva, capaz, cheia de desejos de fazer coisas que nunca havia podido fazer antes. Ela não tem o espírito perdedor daquelas que vestem luto e sentam ao lado da janela aguardando a vida passar. Tira um extrato no banco, faz as contas de sua aposentadoria mais a do marido e percebe que pode viver muitas coisas com aquilo. Abre gavetas e armários, seleciona cuidadosamente novas roupas, arruma-as cuidadosamente na mesma maleta antiquada e sai novamente de casa. Vai até uma agência de viagens e fecha um pacote. Instala-se num pequeno hotel até o dia da partida e sem avisar a ninguém, embarca para uma viagem que deverá durar quase dois meses.
E ninguém deu pela falta dela!

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